Charlotte Perriand e a sua contribuição para o design de interiores moderno

Chefe da área de design de interiores do estúdio de Le Corbusier, seus designs conseguiram conquistar um lugar na história do design de interiores, marcando os melhores momentos do design no século XX. O seu olhar tentava humanizar os espaços modernos através dos seus móveis.
Charlotte Perriand e a sua contribuição para o design de interiores moderno

Última atualização: 25 maio, 2020

A história do design moderno está repleta de grandes mestres, sendo um deles Charlotte Perriand, uma designer de vanguarda, participante ativa do movimento de vanguarda cultural das primeiras décadas do século XX, que representou uma grande mudança nos valores estéticos.

Graças à Charlotte Perriand, os designs de Le Corbusier podem ser entendidos na sua verdadeira magnitude. Os interiores de Perriand complementavam, graças à sua visão moderna, os icônicos edifícios do arquiteto suíço.

Em uma época na qual as profissões de arquiteto e designer eram associadas à figura masculina, ser mulher e arquiteta era algo inovador. Isso faria com que o nome de Charlotte Perriand fosse reconhecido apenas como a eterna colaboradora dos seus colegas do estúdio de Charles-Edouard Jeanneret.

Mas Charlotte Perriand ainda é uma das peças fundamentais do design de interiores moderno e uma de suas grandes impulsionadoras. Os designs de Perriand deram um toque próprio aos espaços de Le Corbusier, pois, até aquele momento, eles eram decorados com móveis que não eram de sua própria autoria.

«Qual é o elemento crucial para um móvel moderno? Podemos responder de forma imediata: o armazenamento. Sem um armazenamento bem planejado, é impossível encontrar espaço em uma casa».   

– Charlotte Perriand. –

Vida e obra

Charlotte Perriand e a sua contribuição para o design de interiores moderno

Móveis de Charlotte Perriand  / arquitecturaydiseno.es

Charlotte nasceu em Paris em 1903, filha de um alfaiate e de uma modista da alta costura. Por volta de 1920, ela se matriculou na escola da União Central de Artes Decorativas, onde passou 5 anos estudando design de móveis.

O estilo da escola, baseado no artesanato, e o estilo Beaux-Arts, não a convenceram. Por isso, Perriand buscou inspiração na estética das máquinas, dos carros e das máquinas incipientes que percorriam as ruas de Paris.

Aos 24 anos, ela começou a ganhar espaço no mundo do design. Isso aconteceu graças ao aclamado ‘Le Bar sous le toit (ou o bar sob o telhado”) de aço cromado e alumínio anodizado, apresentado no Salão de outono de 1927.

Um dos momentos decisivos na vida de Charlotte ocorreu quando ela bateu na porta do estúdio de Le Corbusier. A primeira vez que a arquiteta e designer visitou o estúdio, ela recebeu a seguinte resposta: “Desculpe, não bordamos almofadas aqui”. Com essas palavras, Le Corbusier fechou a porta de sua oficina.

Mas ela não desanimou; pelo contrário, continuou buscando uma oportunidade. Uma vez conquistada a sua tão esperada oportunidade, ela passou a trabalhar em conjunto com Pierre Jeanneret e Le Corbusier por mais de dez anos.

No estúdio de Le Corbusier, ela ocupou a posição de chefe da área de design de interiores. Por volta de 1928, ela projetou três sofás para o estúdio do arquiteto suíço.

Cada um deles tinha uma base de aço tubular cromado. Um sofá para conversas, o B301; um sofá para relaxar, o LC2 Gran Confort; e um terceiro sofá para dormir, o Chaise Longue B306.

Filosofia de design

Charlotte Perriand e a sua contribuição para o design de interiores moderno

Móveis / revistaad.es

Charlotte Perriand estava convencida de que os seus designs deveriam se adaptar à realidade e às necessidades dos habitantes dos espaços. Ela projetava os seus ambientes com a intenção de facilitar o dia a dia das pessoas, além de proporcionar beleza e combater o caos, mas com liberdade.

Com grande interesse pela política e pela economia, ela não aspirava ao luxo e às grandes casas reservadas à classe alta. Pelo contrário, ciente do momento histórico da Europa naqueles anos, ela se concentrou nos princípios comunistas que seguia nessa época.

Isso exigia que ela focasse em construções e designs diferentes dos da elite, que deveriam ser acessíveis para todos ou, pelo menos, para o maior número possível de pessoas.

Ela desejava mudar o mundo a partir das casas e através dos seus projetos. Os seus designs eram pensados para que se adaptassem às pequenas casas de proteção social e dos trabalhadores.

O mesmo era aplicado aos materiais, usava materiais que pudessem ser acessíveis a todos. Ela substituía o aço cromado e o couro por madeira e vime para tornar os seus móveis mais baratos.

Os seus designs se concentravam em outros dois conceitos fundamentais: o modular e o pré-fabricado. Essa combinação de conceitos possibilitava a redução de custos e proporcionava maiores possibilidades de adaptação, desde as prateleiras até os móveis de cozinha e banheiro.

Charlotte Perriand: novos ares

Charlotte Perriand e a sua contribuição para o design de interiores moderno

Móvel / roomdiseno.com

Devido à ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial, ela teve que fugir e procurar refúgio no Japão. Ela saiu de Marselha no mesmo dia em que as tropas alemãs assumiram o controle de Paris. A guerra a seguiu até o Japão, de modo que ela precisou se mudar para o Vietnã.

Graças a essas experiências, a sua obra teve diferentes influências, como, por exemplo, o Zen Budismo, adaptando-se a novas formas de projetar e a novas necessidades. Com novos materiais à sua disposição, ela iniciou uma fase experimental.

Ela faleceu em 1999, aos 96 anos. Charlotte permaneceu ativa até o fim, publicando as suas memórias apenas um ano antes de falecer. Intitulado “Uma vida de criação”, resume uma vida dedicada ao design de espaços e móveis, que ainda hoje continuam sendo fabricados.

Perriand sabia como abrir um novo caminho para o design moderno, apostando em um design de interiores integral. Isso contemplava os aspectos ergonômicos, funcionais e formais de cada espaço. No entanto, devido a vários fatores, ela permaneceu em um discreto segundo plano, à sombra de seus colegas do estúdio de Le Corbusier.