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Burle Marx e o nascimento do paisagismo moderno

6 minutos
Burle Marx, artista e designer brasileiro, baseou os seus projetos de paisagismo na busca pela inovação e na utilização de plantas nativas. Essa busca deu origem a uma nova corrente na construção da paisagem moderna.
Burle Marx e o nascimento do paisagismo moderno
Última atualização: 28 janeiro, 2021

Com Roberto Burle Marx nasceu o paisagismo moderno, devido a sua maneira notável de compor jardins e espaços abertos.

Esse arquiteto brasileiro é considerado um dos maiores expoentes do paisagismo do século XX. Para muitos arquitetos e paisagistas, Burle Marx é o verdadeiro criador do jardim moderno.

Esse arquiteto se tornou um artista plástico excepcional, cultivando também a pintura, a gravura e o mosaico, entre muitas outras atividades. A infância de Roberto Burle Marx foi decisiva para a sua formação profissional subsequente.

Sem dúvida, ter sido contemporâneo e ter conhecido grandes mestres da arquitetura brasileira, como Lucio Costa e Oscar Niemeyer, é algo que lhe abriria um mundo de possibilidades. Mais tarde, ele colaboraria com esses arquitetos em vários projetos. A sua vocação e formação começaram a se cristalizar em uma viagem à Europa, assumindo a sua verdadeira forma na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro.

O seu trabalho no design de jardins e espaços abertos no Brasil representou uma ruptura com a tradição romântica europeia do século XIX. Burle Marx soube como criar e consolidar uma linguagem formal baseada na composição de formas de grande expressividade e no uso de plantas nativas.

Burle Marx: uma vida dedicada à arte

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Paisagismo de Burle Marx / plataformarquitectura.cl

Nascido em São Paulo em 1909, Burle Marx cresceu em uma família que incutia nos seus seis filhos o amor pela arte e pela música. As aulas de canto não faltavam na sua casa devido à profissão de sua mãe, que era cantora de ópera. O pai, um homem de negócios, soube como proporcionar os meios necessários para desenvolver uma rica formação em artes.

Graças a esse amor pela arte, Roberto foi enviado para Berlim durante um ano letivo entre os anos de 1928 e 1929, onde estudou arte e música. Esta viagem foi reveladora para Burle Marx, pois ele descobriu as obras de Pablo Picasso, Paul Klee, Wassily Kandinsky e Vincent Van Gogh.

Rio de Janeiro

Em 1913, a família Burle Marx se mudou para o bairro do Leme, localizado no Rio de Janeiro. Esse momento foi decisivo, pois, aos 7 anos, Roberto iniciaria a sua primeira coleção de plantas nesta casa. Esse amor pelas plantas foi reforçado ao visitar as estufas do Jardim Botânico de Berlim durante a sua passagem pela Europa. 

Ao retornar ao Brasil, ele se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. No entanto, dois anos foram o suficiente para que Roberto se decepcionasse com os métodos acadêmicos.

Ele deixou os estudos e, com o apoio de sua família, começou a desenvolver projetos particulares. A sua linha expressionista se desenvolveu entre o final dos anos 20 e o começo dos anos 40 do século passado. Na década de 40, o seu interesse se voltou para o cubismo, um movimento com o qual ele sentia afinidade.

Os mosaicos de geometria livre e orgânica de influência abstrata começaram a ser desenvolvidos na década de 50. Com as cores, aconteceu algo semelhante, se tornando mais lírico e poético.

Um jardim é feito de luz e sons, as plantas são coadjuvantes.

– Roberto Burle Marx –

Burle Marx: principais obras

Calçadão de Copacabana (Rio de Janeiro, Brasil)

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Este trabalho foi projetado nos anos 70 e foi planejado para acondicionar a Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. Com 4,5 quilômetros de extensão, desenvolve-se ao longo do bairro de Copacabana.

Este é um trabalho de urbanização de um espaço que é um aterramento marítimo. Burle Marx buscava com o seu projeto a utilidade e o prazer que as obras paisagísticas conferem aos seres humanos. 

Ou seja, a construção da paisagem não deve ser apenas um objeto de contemplação, mas também deve desempenhar uma função social. Assim, para Roberto Burle Marx, a arte é uma ferramenta muito próxima do cidadão e deve ser apreciada diariamente.

Uma grande área do calçadão é composta de um pavimento duro, exclusivo para o uso de pedestres. O pavimento é feito de calcário e tem uma composição abstrata, que é um exemplo claro da genialidade de Burle Marx. A utilização destes mosaicos em pedra é uma referência ao urbanismo português.

A vegetação foi disposta de modo que fossem configurados espaços de estadia e descanso. Neste calçadão, diversos espaços são percorridos, e a vegetação foi escolhida a partir de um ponto de vista escultórico, sendo composta por espécies resistentes aos ventos marinhos da região.

Aterro do Flamengo (Rio de Janeiro, Brasil)

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Aterro do Flamengo / tripadvisor.co.za

Em 1961, durante o governo de Carlos Lacerda, presidente do Brasil naquela época, começou a construção do Aterro do Flamengo. O peculiar deste espaço é que ele é um aterramento marítimo.

Este parque foi inaugurado em 1965 e, desde então, é um dos parques mais visitados do Rio de Janeiro. Possui um total de 122 hectares e foi projetado por Burle Marx com a participação dos arquitetos Affonso Eduardo Reidy e Jorge Moreira.

O Aterro do Flamengo conta com uma enorme ciclovia, além de trilhas ideais para longas caminhadas, quadras de futebol e basquete, e até mesmo uma via circular para aeromodelismo e um lago onde se pratica nautimodelismo.

Mas, sem dúvida, a atração mais interessante deste parque é a diversidade que Roberto Burle Marx projetou para a sua flora. Ela é formada principalmente por espécies nativas, cuidadosamente selecionadas pelo paisagista brasileiro. A riqueza da flora do parque atrai muitos pássaros. 

Parque del Este (Caracas, Venezuela)

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Parque del Este / arquitecturayempresa.es

Construído no final dos anos 50 por Roberto Burle Marx, ocupa o espaço de uma antiga fazenda colonial de mais de 70 hectares. Esta fazenda estava localizada em uma posição privilegiada no vale de Caracas, bem próximo da base aérea da Carlota. 

Burle Marx colaborou com técnicos locais para transformar esse espaço em uma das melhores obras artísticas e em uma referência contemporânea da cidade.

Neste trabalho, Burle Marx utilizou espécies tropicais, sempre respeitando a geografia do local. A inspiração formal veio de artistas modernos, como Jean Arp. Por todas essas razões, o Parque del Este de Caracas é uma obra-prima do paisagismo contemporâneo.  

Burle Marx difundiu o uso de uma exuberante vegetação nativa para os jardins, parques e alamedas. As espécies nativas não eram muito difundidas no Brasil ou na América Latina, pois havia a preferência pelo uso de espécies estrangeiras. Graças a Burle Marx, foi difundido o uso de plantas nativas em projetos paisagísticos.

Além disso, Burle Marx também trouxe para o layout de seus jardins vários recursos gráficos das atividades artísticas que ele dominava com maestria. Tinha uma preferência pelos elementos biomórficos da vanguarda plástica, inspirados nas obras de Miró, Calder, Léger, etc., e principalmente de Jean Arp. 

Assim, como podemos ver, devemos agradecer a Roberto Burle Marx pelo nascimento do paisagismo moderno.