O cholet, a arquitetura neo-andina da opulência

A arquitetura dos cholets resume a identidade dos aimarás, habitantes dos altiplanos andinos. Por causa das suas cores chamativas e da sua geometria com motivos andinos, eles se destacaram internacionalmente.
O cholet, a arquitetura neo-andina da opulência

Última atualização: 16 dezembro, 2019

O cholet é um estilo representativo da arquitetura neo-andina da opulência. As construções deste novo estilo são caracterizadas pelas cores e figuras geométricas. Com uma estética particular, esse estilo surgiu como uma tendência da nova arquitetura no altiplano andino.

Esse novo estilo é o resultado de uma busca constante de Freddy Mamani, um ex-pedreiro que se tornou engenheiro e construtor. Essa arquitetura busca uma linguagem que expresse uma identidade andina contemporânea.

A busca de Freddy Mamani está centrada na cidade de El Alto, localizada nos arredores de La Paz, na Bolívia. Esta cidade de crescimento espontâneo é um produto da migração vinda do interior do país.

Mais de cinquenta anos se passaram desde que os primeiros moradores se estabeleceram em El Alto. Desde aquele momento até os dias de hoje, uma burguesia aimará única se consolidou. Freddy Mamani é o arquiteto preferido desta burguesia boliviana.

Freddy Mamani: um arquiteto autodidata

a arquitetura neo-andina da opulência

Arquitetura neo-andina / elpais.com

Este arquiteto boliviano nasceu na pequena comunidade aimará de Catavi, na província de Aroma, no estado de La Paz. Começou a trabalhar há cerca de 20 anos, como servente de pedreiro.

Depois disso, ele decidiu se especializar e estudar na Faculdade Tecnológica de Construções Civis, na Universidade Maior de San Andrés. Mais tarde, ele estudou Engenharia Civil na UBI e estudou arquitetura de forma independente.

Este novo estilo surgiu na sua primeira obra. Francisco Mamani, um comerciante importador de telefones, queria construir uma casa. Sem saber qual estilo ele queria, entrou em contato com Freddy Mamani.

Foi ele quem sugeriu a construção de um edifício elegante, com formas andinas, coloridas e com um grande salão de festas. Isso representou uma mudança nesta cidade, pois não havia nada do tipo até então. Esta primeira construção foi seguida por mais de 70 outras em El Alto.

Essas construções são caracterizadas por serem de seis andares, dominando a paisagem urbana da cidade de El Alto. O que mais se destaca é a paleta de cores, com tons extravagantes para a arquitetura tradicional.

As cores se destacam porque as construções desta cidade montanhosa são feitas de tijolo aparente. Este material é muito difundido em El Alto, criando assim uma paisagem monocromática, fria e seca.

A minha arquitetura não é uma arquitetura exótica, mas sim uma arquitetura andina que transmite identidade e recupera a essência de uma cultura.

– Freddy Mamani –

O cholet, a arquitetura neo-andina da opulência da burguesia aimará

O cholet, a arquitetura neo-andina da opulência

Cholet / telesurtv.net

Historicamente, a cidade de El Alto recebeu migrações de milhares de camponeses originários do interior da Bolívia. Mais de cinquenta anos de crescimento estimularam a formação de uma nova burguesia aimará.

Essa nova burguesia viu em Freddy Mamani e no seu trabalho um aliado excepcional. Encontrar uma identidade aimará, arquitetônica e cultural, era uma prioridade para ele. Freddy Mamani comenta: “Procuro dar identidade à minha cidade recuperando elementos de nossa cultura original”.

Essas construções chamadas cholets, devido ao jogo de palavras entre chalé e cholo, estão espalhadas pelo altiplano andino. Elas são caracterizadas por seus grandes painéis de vidro em fachadas transformadas em composições plásticas por meio de molduras de gesso.

As fachadas têm uma geometria espontânea, testada na hora. Elas são pintadas com pinceladas de cores complementares e chamativas. Predominam os tons de laranja, verde, azul e amarelo.

No imaginário da cultura aimará, a casa é um universo em constante movimento que nunca deve ser estático. Por isso, é necessário que ela sempre tenha vida, e isso é feito através das comemorações. Com isso, também é gerada riqueza que beneficia a comunidade, de modo que essas construções são de uso misto.

Essa arquitetura que parece inspirada na arte psicodélica, na verdade, é inspirada nas cores dos aguayos. Os aguayos são tecidos que as mulheres aimará usam de diversas maneiras.

Por esse motivo, a arquitetura de Freddy Mamani é severamente criticada por não seguir os padrões acadêmicos. Mamani parece não se importar e argumenta: “Eu quebrei os velhos cânones da arquitetura e, sim, sou um transgressor”.

A identidade aimará no programa arquitetônico do cholet

Freddy Mamani, o arquiteto autodidata

Cholet / telesurtv.net

Na cultura aimará, sempre há motivos para comemorar e brindar. Quando as comunidades indígenas migram para as cidades, elas carregam todas as suas tradições da cultura aimará.

Os salões de dança projetados por Freddy Mamani são os espaços ideais para manter essas tradições. O grande mérito de Mamani é repensar a arquitetura para abrigar as atividades típicas da cultura aimará.

Os espaços são amplos e com pé direito duplo, contendo bares, salas de jantar, pistas de dança e palcos para bandas de música. Além disso, são colocados espelhos que refletem as luzes de paredes e tetos, além de luminárias suspensas trazidas da China.

Como consequência, os salões de dança estão localizados nos primeiros andares e, acima desses andares, são construídos outros para alugar. Muitas vezes, eles são feitos para os filhos dos proprietários, e um cuidado especial é tomado nos espaços comuns. Para coroar o edifício, a casa do proprietário se projeta, destacando-se no conjunto da fachada.

O cholet, a arquitetura neo-andina da opulência em nível internacional

A identidade aimará na arquitetura

Ambiente interno cholet / eldeber.com

Há alguns anos, foi lançado um documentário sobre a vida e a obra desse arquiteto boliviano com o nome Cholet: a obra de Freddy Mamani, do diretor Isaac Niemand, que fez muito sucesso no festival de Roterdã.

Em 2018, a Fundação Cartier encomendou um espaço de Mamani para fazer uma festa andina para o Nomadic Nights. Assim, o grande trunfo de Mamani foi levar a cultura de El Alto a Paris e consagrar os seus cholets em âmbito internacional.

A Fundação Cultural do Banco Central preparou uma exposição da obra de Freddy Mamani no Museu Nacional de Arte de La Paz. Posteriormente, a exposição percorreu outras cidades da Bolívia, tais como Sucre, Potosí ou Santa Cruz.

O cholet, uma amostra da arquitetura neo-andina da opulência, é o resultado da busca por uma arquitetura própria. A identidade da cultura aimará ganhou uma nova personalidade graças ao trabalho de Freddy Mamani. Os cholets são uma expressão artística revigorante e renovadora que enriquece a arte latino-americana.